sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Nietzsche. Nascimento da Tragédia. Dionísio. Feliz 2013!!!



         Passagem de Nascimento da Tragédia, quando  Nietzsche se refere a Dionísio:
        
         " Sob a magia de dionisíaco torna a selar-se não apenas o laço de pessoa a pessoa, mas também a natureza alheada, inamistosa ou subjugada volta a celebrar a festa de reconciliação com seu filho perdido, o homem. Espontaneamente oferece a terra as suas dádivas e pacificamente se achegam as feras da montanha e do deserto. O carro de Dionísio está coberto de flores e grinaldas: sob o seu jugo avançam o tigre e a pantera. Se se transmuta em pintura o jubiloso hino beethoveniano à " Alegria" e se não se refreia a força de imaginação, quando milhões de seres frementes se esponjam no pó, então é possível acercar-se do dionisíaco. Agora o escravo é homem livre, agora se rompem todas as rígidas e hostis delimitações que a necessidade, a arbitrariedade ou a " moda impudente" estabeleceram entre os homens. Agora, graças ao evangelho da harmonia universal, cada qual se sente não só unificado, conciliado, fundido com seu próximo, mas um só, como se o véu de Maia tivesse sido rasgado e, reduzido a tiras, esvoaçasse diante do misterioso Uno-primordial. Cantando e dançando, manifesta-se o homem como membro de uma comunidade superior: ele desaprendeu a andar e a falar, e está a ponto de, dançando, sair voando pelos ares. De seus gestos fala o encantamento. Assim como agora os animais falam e a terra dá leite e mel, do interior do homem também soa algo de sobrenatural: ele se sente como um deus, ele próprio caminha agora tão extasiado e enlevado, como vira em sonho os deuses caminharem. O homem não é mais artista, tornou-se obra de arte: a força artística de toda a natureza, para a deliciosa satisfação do Uno-primordial, revela-se aqui sob o frêmito da embriaguez. (...)". "

       Essa embriaguez do final, me lembra a que Charles Beaudelaire evocava para combater "o horrível fardo do tempo": "É hora de se embriagar! Para não serem escravos martirizados do tempo, embriaguem-se: embriaguem-se sem cessar! De vinho, poesia ou virtude, como quiserem."
 
 
           Não são palavras incandescentes, as do filósofo e do poeta?
 
     Não são elas que nos nutrem e unem com o que há de extraordinário em nossa passagem pelo planeta?

    Com nossas raízes, nossos amálgamas, nossos laços que asseguram o lançamento, livre de temores, da embarcação, que já flutua, quando deixamos o cais e partimos para mais uma maravilhosa viagem pela vida?
 
Sim.
 
        Niezsche é o filósofo da dança porque é também o dos verbos: ir, descobrir, amar, criar, vibrar, acreditar em nossa potencialidade — que nos faz, sem fugirmos da realidade, sentir prazer em viver. 

       Verbos conjugados no presente, sem os quais, e sem o qual, quaisquer formas de arte jamais poderiam brotar do solo.

       É da terra mais antiga, mais fértil,  que ele extrái  a força de suas afirmações  e  com a qual combate  não apenas seus oponentes, mas suas próprias sombras.

       Com esse vigor tornou-se o crítico dos que negam a plenitude da vida e  nos estende a mão quando os tremores do solo nos impele  ao andar vacilante.

       Ele, o filósofo da dança e do sim, mostra-nos o voo que nossa  essência desbravadora, pode alçar.